Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Você veio aqui para que?

Ano novo que se aproxima, metas que serão estabelecidas, antigos hábitos que serão deixados (ao menos no campo da tentativa) de lado. É sempre a mesma história. Uma quinta que vira sexta e tudo mudará completamente na vida de todos. Pena que não é tão simples assim. A energia da virada do ano nos faz pensar em muitas coisas, em muitas mudanças, mas o tempo vai passando e continuamos agindo da mesma forma, com a mesma rotina, torcendo para chegar logo o fim do próximo ano para que possamos novamente nos renovar com essa energia. É a mesma história das dietas que começam apenas nas segundas-feiras.

Essa época me faz pensar em qual meu papel por aqui, nessa bolinha coberta de água. Não quero entrar num campo filosófico, de discussão de valores sociais, de essência do ser. Apenas penso que se estou aqui é porque há alguma razão de ser e, se existe tal razão, eu tento caminhar da melhor maneira possível. Sabe a história de se fazer a diferença no mundo? Pois é, eu penso nisso sim. Não tenho pretensões em ser Gandhi ou Mandela, não estou aqui para desarmar a bomba atômica, mas tenho convicção que posso fazer a diferença sim na vida de muitas pessoas. E como posso fazer isso? Simples! Com meu trabalho, qualquer que seja ele, realizado de forma honesta, com energia e foco na resolução de problemas alheios, sem desejar recompensas ou reconhecimentos globais.

É possível descobrir logo nosso papel? Acredito que não. Muitas pessoas passam anos, envelhecem e morrem sem saber de fato a que vieram aqui. Trabalham, batalham, mas não sentem em seu íntimo que estão fazendo a tal diferença. Isso gera um sentimento de frustração que muitas vezes não é compartilhado e morre com a pessoa. Você quer isso para sua vida? Quer passar anos e anos trabalhando em uma coisa que não lhe faz feliz? Lutar tanto e ver que você poderia ter feito outra coisa mais útil, não só para a sociedade, mas para sua vida? Claro que não. Ninguém quer isso, mas são poucos os que se atentam, são raros os que têm coragem para parar o ônibus e pedir para descer, para embarcar em outra direção, em uma vida que definitivamente tenha sentido.

Descobrir o que te faz feliz nem sempre é tarefa simples. Demanda tempo, reflexão, conversas, estudos. Mas esteja certo, caro amigo, essa dedicação vai valer a pena. Trabalhar naquilo que te faz bem é muito bom. O tempo passa mais rápido, o salário tem um valor maior, você é recompensado a todo o momento pelas mínimas coisas que acontecem. O árduo, do famoso “trabalho árduo”, desaparecerá.

O grande problema de se buscar aquilo que te satisfaça é que, como as outras coisas na vida, há um preço a ser pago. Há casos em que a própria pessoa banca a mudança, mas na maioria das vezes é preciso abrir mão de muitas coisas, de conforto, dinheiros dos pais, segurança. Não são todas as pessoas que estão dispostas a viver uma vida, ou parte dela, de sacrifícios em busca de um sonho. Não são todas as pessoas que enxergam além do dinheiro, que trabalham para que a visão não fique restrita ao campo monetário. Talvez aí esteja grande parte das frustrações dos tempos atuais, já que, por uma pseudo segurança, abre-se mão de um futuro promissor, em uma carreira onde a capacidade da pessoa pode ser explorada ao máximo.

Não é difícil. Revire seu baú de memórias, veja como agia quando criança, adolescente. Tente lembrar das coisas que gostava de brincar, do seu comportamento na escola, na rua. Parece uma tarefa boba, mas é possível ver que muita coisa dessa época vai refletir na sua escolha por uma profissão, ainda que você não faça uma ligação imediata desses dois momentos. E outra: não fique muito tempo em um lugar que te faça infeliz. Troque, corra atrás de outras coisas, veja seus talentos, seus dons e busque fazer atividades que possam parecer brincadeiras, que aí sim seu trabalho renderá muito mais e dará a você, diariamente, a sensação de dever cumprido.
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É isso.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Reagindo

É engraçado como as pessoas reagem de forma tão diferente quando se veem diante de um conflito. As reações são inesperadas e por mais que pensemos que vamos controlar, só é possível saber qual seu perfil quando a situação realmente acontece. Podemos até prever um pouco, já que a reação tem relação com a personalidade. Mas em um conflito o nível de adrenalina aumenta, ficamos estressados e reagimos, podendo parecer, quando a cabeça esfriar, que não foi um de nós que fizemos aquilo.

Há diversas formas de se encarar um conflito. Segundo a doutrina que estuda a mediação de conflitos, as soluções mais usadas são o enfrentamento (verbal ou físico), a resolução (ou, ao menos, a tentativa) ou se ignora o problema. Cada uma dessas alternativas traz vantagens e desvantagens e são usadas de acordo com o perfil da pessoa e da real necessidade de determinando conflito ser solucionado.

Particularmente, opto pela opção de ignorar. Sei que não é a melhor, mas com ela evitam-se brigas, discussões, embates. Lógico que não vai resolver o problema, mas pelo menos outros não são criados. A grande desvantagem dessa opção acontece quando a outra parte envolvida também ignora. Isso cria um círculo vicioso e a coisa não anda, o problema não é resolvido e a relação, que antes era excelente, torna-se insuportável.

Tem gente que opta pelo enfrentamento. Ainda me assusto quando vejo essas pessoas buscando resolver os problemas dessa forma. Uma amiga, para resolver uma questão com um rapazinho pra lá de mentiroso, procurou o endereço da namorada atual do cara e foi lá falar, na frente da moça, inclusive, algumas verdades, desmascarando muitas mentiras que ele contava para ambas. Para piorar um pouquinho, essa minha amiga não tem, ao menos aparentemente, esse tipo de perfil. Ficou aí um bom exemplo de como a gente não sabe exatamente que tipo de atitude que vamos tomar quando tivermos que agir.

Não há uma receita de bolo para se resolver problemas. Cada um anseia uma reação diferente e cabe a nós decidirmos qual tipo de resolução daremos àquele caso. Fato é que nossa opção terá reflexo na posição da outra parte e, dependendo do que a gente escolher, pode magoar e piorar ainda mais as coisas. Vivemos numa cultura de não tolerar os erros alheios e temos muita dificuldade em aceitar que erramos. Pedir desculpas é algo raro hoje em dia. Buscar o diálogo, o entendimento, é tarefa que não é mais realizada. Perdem-se boas amizades por conta de fatos que nem ao menos sabemos do que se trata. Nem mesmo a causa do conflito é esclarecida, dificultando, para não dizer impossibilitando, qualquer tipo de acordo. O primeiro passo é saber onde você errou, o que fez para magoar a outra parte.

O ideal é que não houvesse desentendimentos, mas eles estão aí e precisam ser enfrentados. Buscar o diálogo é sempre a melhor opção, mas não é a única alternativa. Não ser rude e ter humildade são requisitos fundamentais para início de conversa. Aceitar que errou é importante. Pedir desculpas não dói. Ceder em alguma coisa é necessário. A grande questão é colocar em prática essas atitudes, mas o exercício deve ser diário e não podemos esmorecer... uma hora a gente evolui!
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É isso.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Primeiras (e não finais) impressões

Constantemente ficamos diante dessa situação: somos apresentados a alguém e temos que, naquele curto espaço de tempo, demonstrar que somos “dignos” de interesse, que aquele desconhecido pode conversar conosco sem se arrepender. Para algumas pessoas isso é muito natural, algo quase instintivo. Para outras, entretanto, é tarefa árdua, mas que pode ser minimizada se houver colaboração da outra parte.

É natural as pessoas se conhecerem, acontece praticamente todos os dias. Somos seres movidos pela comunicação e pela necessidade de interação social. Lógico que isso varia de pessoa para pessoa, mas, no geral, é agradável conhecer pessoas novas, ficar sabendo de histórias de vidas diferentes da sua. A questão é como esse início de relacionamento acontece, se há alguma forma de torná-lo mais tranquilo, principalmente para aquelas pessoas caladas ou tímidas.

Para começar, é preciso distinguir uma pessoa calada daquela pessoa tímida, na essência da palavra. O tímido não consegue estabelecer uma relação, fica tenso quando alguém se aproxima, responde em monossílabas, respostas curtas, evitando contato visual, entre outras características. Já a pessoa calada não corresponde necessariamente a uma pessoa tímida. Vários são os fatores desse tipo de comportamento, mas creio que o mais comum é que esse tipo de pessoa prefere, ao menos num primeiro momento, ficar calada para observar o ambiente em que se encontra. Essa observação é muito importante para os calados, com ela é possível ver um pouco da personalidade dos frequentadores do local, ver com que é mais fácil estabelecer um contato inicial, entre outros fatores.

Há aquela ideia de que a primeira impressão é a que fica. Talvez isso seja verdade, mas é possível, dependendo da imagem que se tem no início, alterar essa impressão inicial. Lógico que um contato inicial muito traumático, com uma pessoa grossa, arrogante ou extremamente inconveniente, por exemplo, dificilmente terá a imagem alterada. Em outros casos, principalmente quando se tem contato com alguém que inicialmente lhe parece desinteressante, fútil, sem uma conversa atraente, há possibilidade de se reverter essa imagem, bastando, para isso, que se dê uma chance para essa pessoa.

E qual tipo de chance? Simples! Puxe conversa, tente entender um pouco mais aquela pessoa que está contigo, coloque na conversa assuntos que mexam com a atenção dela, enfim, dê um pouco de atenção que a coisa anda, você se surpreenderá com o que aquele desconhecido “chatinho” pode oferecer. Mais do que uma simples conversa agradável, esse inicio de relação pode se transformar em uma amizade sólida, com uma atenção que você talvez não tenha daquela pessoa que inicia um relacionamento em segundos.

Talvez o caminho mais fácil, e ao mesmo tempo mais difícil, seja nos livrarmos de qualquer espécie de preconceito. O famoso “não fui com a cara” significa que não demos a chance sequer daquela pessoa se apresentar, de conhecer o mínimo de sua personalidade. O fato de a ignorarmos, sob o argumento de que a outra pessoa se mostrou desinteressada, não quis muito papo, não serve e não deve ser usado nessa situação. Dê mais atenção àqueles que estão a sua volta, pense que pode haver uma pessoa interessada em conversar contigo, escutar seus problemas, compartilhar experiências, enfim, alguém que, após se estabelecer confiança, vai ser sempre um ombro amigo pronto para te ajudar.

É isso.

sábado, 28 de novembro de 2009

Síndrome do reclamão

Tenho certeza que não preciso perguntar se você, caro amigo, já teve contato com uma pessoa “portadora” dessa síndrome. Em linhas gerais, consiste naquela pessoa que reclama de tudo e de todos, que acha que nada está bom. Obviamente que esses não são os únicos sintomas e cada reclamão desenvolve alguns outros, de acordo com sua personalidade.

Estar junto a um reclamão é tarefa extremamente complicada e requer muita habilidade, visto que a possibilidade de contágio, dependendo do dia em que você estiver, é alta. Caso ele te pegue desprevenido, com a alta estima baixa, chateado com alguma coisa, é provável que você se torne um, ao menos naquele momento. O único remédio nesse caso é refletir antes de ficar reclamando, pensar que isso não resolverá absolutamente nada os seus problemas e, provavelmente, apenas tornarão a percepção desses ainda maiores do que já são de fato.

O reclamão pensa que o mundo gira em torno dele e que há uma eterna conspiração de tudo e de todos contra ele. Se algo acontece, é porque ele estava na situação, senão seria diferente, correria tudo bem, tudo normal. Não, reclamão, não é isso. Os problemas acontecem com todo mundo e todo mundo sente da mesma forma. Ninguém tem sorte ou azar o tempo todo, as coisas passam, independente de quem esteja no foco da situação. Pare de pensar que tudo o que acontece é porque você está envolvido. Você é apenas mais um na engrenagem que move o mundo.

Cada um de nós tem sua importância no mundo, na família, no nosso círculo social, mas uma coisa muito fria e realista precisa ficar clara aqui: ser importante não significa ser fundamental, ser decisivo para que as coisas continuem funcionando. Quando a pessoa morre, ela deixa saudades, familiares e amigos ficam tristes, sentem falta. E só. Tudo continua do mesmo jeito, o jogo de futebol do seu time vai acontecer no próximo domingo, seu cachorro vai comer ração normalmente, seu namorado ou companheiro vai arrumar outra pessoa. É inevitável. E justo, muito justo. Ou você queria que todos entrassem em um luto infinito?

Outra coisa: só reclamar resolve? Pergunto isso porque o que mais se vê nesse tipo de pessoa são reclamações vazias, carentes de uma ação simultânea. Reclamar quando está ruim é normal, todo mundo faz. Mas quem reclama e age é uma coisa, quem reclama só por reclamar é que chateia. E os portadores da “síndrome do reclamão” já acordam reclamando, reclamam ao longo do dia e dormem da mesma forma. Basta olhar para a vida deles que se observa que a maioria das reclamações não procede, que ele fala de coisas que não existem e que as coisas que têm algum fundamento continuam da mesma forma, visto que ele nada faz para mudar a situação. Não muda por medo, por fraqueza, por saber que pode ficar muito pior do que virtualmente está, mas ainda assim continua reclamando.

Os reclamões possuem outra característica em comum, que é a de falar muito de si, de só falar na primeira pessoa. Como pensam que estão no centro do mundo, acreditam fielmente que sua posição ali, naquele momento, quer dizer alguma coisa. Expõem opiniões sobre tudo e sobre todos, do cocô à bomba atômica (essa citação é do Jô Soares), entram em polêmicas desnecessárias apenas para impor o ponto de vista e ficam extremamente chateados e furiosos quando discordam dessas opiniões.

Portanto, se você, caro amigo, se viu nesse texto (o que é difícil, porque os reclamões não aceitam opinião de ninguém, sobretudo quando se critica o modo de agir), repense alguns valores da sua vida, imagine que quem está ao seu lado não é obrigado a aguentar seu temperamento e que viver assim só afasta do seu convívio pessoas que lhe querem bem. Se você for um chefe assim, muitas pessoas ainda ficarão do seu lado, mas apenas por questões profissionais, puxando o saco de alguém insuportável e que, se tivesse escolha, seria a última pessoa a se querer por perto.
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Viva mais, reclame mesmo, aja para mudar o que te incomoda, mas não queria que as pessoas tenham pena de você, não queria que todos mudem seu modo de viver apenas porque você não está feliz em determinada situação. Seja mais altruísta, pense menos em dinheiro, em posse, pense mais no outros, em como você pode ajudar. Isso vai te tornar um ser humano melhor, alguém que quando envelhecer vai olhar para trás e ver que valeu a pena ter vivido, que ficou marcado na memória das pessoas por suas atitudes positivas.
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É isso.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Amor, dependência e controle

Sou um pouco cético quando observo as pessoas trocando declarações de amor por aí. Não, não duvido da existência desse sentimento e o acho fundamental para nossa vida, mas acredito que muitas pessoas banalizam esse sentimento por aí afora. E essa é apenas uma das “más aplicações” do conceito de amor. Tentarei mostrar algumas delas nesse pequeno texto.

Talvez você, caro amigo, já tenha reparado essa situação: uma pessoa que mal conhece a outra e já a trata pela alcunha de amor. É provável que a pessoa que diga isso nem perceba tanto, mas será que quem ouve não acha, no mínimo, estranho? Bom, eu acharia. Mais do que estranho, acharia vazio, desnecessário e, com toda certeza, falso. Alguns substantivos, como amor, amigo, entre outros, não devem ser dito tão desnecessariamente, não devem ser vulgarizados, colocados no mesmo patamar de outros com menos intensidade.

Outra situação é a confusão que existe entre amor e dependência. Essa dependência, aliada ao comodismo, faz com que algumas pessoas confundam os sentimentos, achando que amam aqueles que apenas estão cotidianamente em suas vidas, que são presentes como uma carteira ou um celular, que farão falta quando “sumirem”, mas que poderiam ser substituídos por outra pessoa, sem maiores traumas. Acontece que optar por essa troca não é tarefa simples e, dessa forma, as pessoas vão levando seus relacionamentos, deixando passar o tempo e não se dando conta de que isso só aumentará o sofrimento quando essa relação se romper.

Ser dependente de outra pessoa tem diversas implicações negativas. Não se vive uma vida dessa forma, senão corre-se o risco de não ver a maior parte de suas vontades satisfeitas, de ver que sua vida passou em função de outra, em função de desejos de outra pessoa, muitas vezes não coincidindo com os seus. O problema é que quase sempre quem está nessa situação não consegue visualizar que a vida corre dessa maneira. Quem vive iludido, achando que tudo é em função do amor, até briga quando outra pessoa faz algum comentário sobre essa situação, acha que é inveja, ciúmes, etc. Pode até ser mesmo, mas em muitos casos não é. Quem está de fora consegue enxergar coisas diferentes, pode ver o mal que a pessoa está fazendo a si mesmo se enganando dessa maneira.

Por último, acho interessante falar no amor como subsidio para controle. É importante, caro amigo, dizer que essa situação não é necessariamente o contrário da dependência, já que muitas pessoas controladoras são, ao mesmo tempo, extremamente dependentes. De fato, talvez essas duas características andem lado a lado, mas não necessariamente na mesma proporção. Por amor, controla-se os passos da outra pessoa. Com a justificativa do amor, sacrifica-se um descanso, uma coisa importante a ser feita, para exercer o controle. Quem controla precisa abdicar de atividades necessárias para ter tempo de controlar. Quem é controlado, considera essa “dedicação” excelente, acredita que o amor faz com que ela tenha toda atenção do mundo, não conseguindo ver, todavia, qual a real intenção desse tipo de atitude.

No mais, é isso. Sei que pode parecer uma visão muito pessimista, mas penso que nada mais é do que a observação um pouco mais fria, um pouco menos romântica, de situações cotidianas. Lógico que tem muita gente feliz com a vida desse jeito, mas talvez esse conceito de felicidade, esse suposto ápice que ela acha que vive, não seja absolutamente nada em vista do que ela poderia viver se pensasse de outra forma.
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É isso.

domingo, 18 de outubro de 2009

Dizendo adeus

Palavra forte, essa adeus, não é mesmo? Traz uma ideia bruta, um peso maior do que parece ser possível carregar. Em um primeiro momento, talvez seja essa a impressão inicial que se tem, mas com o passar do tempo, é possível ver que somos capazes de suportar qualquer peso que for, apesar de não termos essa consciência inicial, visto que sair da zona de conforto, para testar novas possibilidades, não é habitual para ninguém.

Ninguém gosta de perder, ninguém quer ficar por baixo. Acontece que isso é necessário para que se abra um leque de novas possibilidades. É muito cômodo ficar numa situação que, embora pareça confortável, só se desgasta a cada dia que passa. Sair dessa situação não é enganar ninguém, ainda que o outro lado refute em aceitar. As mudanças são imprescindíveis, muda-se o jeito, muda-se a pessoa, muda-se o local, tudo em busca de algo que satisfaça as necessidades de um determinado momento.

Quando mudamos, somos vistos como traidores, como escrotos (desculpem esse tipo de expressão, mas é literalmente o que já ouvi em determinando momento de minha vida), traíras, idiotas, enfim, palavras que denotam a insatisfação daqueles que são diretamente atingidos por nossas ações. Talvez elas estejam com alguma razão, mas é improvável pensar numa vida vivida em função do desejo alheio. Cada vida é única e deve ser vivida de acordo com a vontade de seu respectivo dono (obviamente respeitando alguns limites, principalmente aqueles que atingem a esfera alheia).

Mudar não significa necessariamente girar 180º. Pode-se mudar algum detalhe e essa pequena alteração, por menor que seja, traz paz e conforto para quem mudou. Quem está do outro lado, ou seja, quem tem que suportar essa mudança, precisa enxergar o bem que isso pode fazer para o outro. Sacrificar significa renunciar voluntariamente, dedicar com ardor. Vez em outra esse tipo de sacrifício pode ser crucial para que o entendimento volte a reinar entre as pessoas.

Pensamos sempre que conhecemos o outro lado. Quanta inocência, quanta ingenuidade! Sabemos muito pouco de qualquer outra pessoa, por mais próximos que sejamos dela. Conhecer o íntimo, os desejos, intenções, anseios, é muito mais difícil do que se imagina. Pense em você mesmo, caro amigo: você revela tudo o que se passa em seu interior? Deixa as pessoas conhecerem seus sentimentos mais profundos? Penso que a resposta só pode ser negativa. Revelar tudo nos torna vulneráveis, temos receio disso, medo de ficarmos expostos demais ante as pessoas.

Essa falta de conhecimento alheio leva às brigas, aos desentendimentos, causa confusão, visto que imaginamos uma coisa que não corresponde à realidade. Ficamos frustrados por não dominar os sentimentos da outra pessoa, mas é preciso saber que isso é tarefa impossível. Não vale a pena se prender a isso. Relaxe, viva o que der, o quanto der, com a maior intensidade possível. Se vai dar certo, se vai durar? Não sei. Apenas penso que não há outro caminho menos espinhoso para irmos preenchendo nossas vidas com momentos importantes, agradáveis e que ficarão guardados conosco enquanto vivermos.
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É isso.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Nossos dados vazaram!!!

Em primeiro lugar, peço desculpas pela falta de originalidade nessa postagem. Mas ao ler esse texto do Luiz Fernando Veríssimo, pensei sobre essa situação em que nossos dados cadastrais são comercializados entre as empresas, tirando nossa privacidade, nos importunando com diversas ligações de call center, com pessoas querendo vender produtos os mais diversos possíveis. Já questionei algumas atendentes de telemarketing sobre como a empresa em que ela trabalha sabia tantos dados meus, já que eu nunca havia feito cadastro com eles. A resposta sempre é a mesma: não sei! (ou, melhor: não estarei sabendo responder essa pergunta, senhor!)
Vamos ao excelente texto do Veríssimo:
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PEDINDO UMA PIZZA EM 2015

-Telefonista: Pizza Hot, boa noite!
-Cliente: Boa noite, quero encomendar pizzas...
-Telefonista: Pode me dar o seu NIDN?
-Cliente: Sim, o meu número de identificação nacional é 6102-1993-8456-54632107.
-Telefonista: Obrigada, Sr.Lacerda. Seu endereço é Av. Paes de Barros, 1988 ap. 52 B, e o número de seu telefone é 5494-2366, certo? O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu celular é 9266-2566.
-Cliente: Como você conseguiu essas informações todas?
-Telefonista: Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.
-Cliente: Ah, sim, é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma quatro queijos e outra calabresa...
-Telefonista: Talvez não seja uma boa idéia...
-Cliente: O quê?
-Telefonista: Consta na sua ficha médica que o Sr. sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.
-Cliente: É, você tem razão! O que você sugere?
-Telefonista: Por que que o Sr. não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Sr. vai adorar!
-Cliente: Como é que você sabe que vou adorar?
-Telefonista: O Sr. consultou o site "Recettes Gourmandes au Soja" da Biblioteca Municipal, dia 15 de janeiro, às 14:27h, onde permaneceu ligado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...
-Cliente: OK, está bem! Mande-me duas pizzas tamanho família!
-Telefonista: É a escolha certa para o Sr., sua esposa e seus 4 filhos, pode ter certeza.
-Cliente: Quanto é?
-Telefonista: São R$49,99.
-Cliente: Você quer o número do meu cartão de crédito?
-Telefonista: Lamento, mas o Sr. vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito já foi ultrapassado.
-Cliente: Tudo bem, eu posso ir ao Multibanco sacar dinheiro antes que chegue a pizza.
-Telefonista: Duvido que consiga, o Sr. está com o saldo negativo no banco.
-Cliente: Meta-se com a sua vida! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?
-Telefonista: Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos. Se o Sr. estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...
-Cliente: Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de moto?
-Telefonista: Peço desculpas, mas reparei aqui que o Sr. não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que fosse utilizá-la.
-Cliente: @#%/§@&?#>§/%#!!!!!!!!!!!!!
-Telefonista: Gostaria de pedir ao Sr. para não me insultar... não se esqueça de que o Sr. já foi condenado em julho de 2006 por desacato em público a um Agente Regional.
-Cliente: (Silêncio)
-Telefonista: Mais alguma coisa?
-Cliente: Não, é só isso... não, espere... não se esqueça dos 2 litros de Coca-Cola que constam na promoção.
-Telefonista: Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 095423/12, nos proíbe de vender bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...
-Cliente: Aaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!!!!! Vou me atirar pela janela!!!!!
-Telefonista: E machucar o joelho? O Sr. mora no andar térreo!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O que busca?

Todos os dias estamos na batalha, colocando em prática vários verbos: estamos estudando, trabalhando, “concursando”, etc. Tudo isso em busca de um ideal, de algo que vá nos fazer feliz. Será? Qual será essa felicidade que a gente sempre busca, qual será esse ideal que quando chega não supre na totalidade as nossas expectativas?

O que buscamos, afinal? Buscamos bons empregos, boas faculdades, bons relacionamentos, tudo isso a troco de que? Para se ter estabilidade financeira, ter dinheiro para fazer o que quiser, seriam as respostas diretas a estas questões. Mas isso é muito pouco, muito vago, é um fim que não paga o preço do meio em que se viveu para obtê-lo.

Muita gente passa longos anos sacrificando suas vidas em prol de um objetivo que não é claro nem mesmo para elas. O simples objetivo de passar em um concurso, por exemplo, apenas para se ter um emprego de renome e ter uma vida financeira mais tranquila não é justificativa plausível para tanto sacrifício. Deixamos de lado nossos amigos, pessoas com as quais nos relacionamos, família, enfim, vários pilares que nos sustentam nos piores momentos apenas para ser um servidor público e ter nosso salário ali na conta todo mês? Acredito que não.

A palavra de ordem é ponderação. Penso que qualquer objetivo que você tenha em mente pode e deve ser alcançado sem o sacrifício total de outras relações. Ao contrário de pregações do tipo “Willian Douglas”, acredito que há sim possibilidade de conciliar a vida profissional com a vida pessoal. E não é uma conciliação como ele afirma, de você usar o tempo quase que exclusivamente para estudo ou trabalho e deixar o que sobra para se divertir. É possível fazer bem as duas coisas e é importante que se faça isso.

Pense bem: hoje você está em busca dos seus sonhos e se dedica exclusivamente a eles, abdicando de outras coisas que lhe dão prazer. Daqui a alguns anos, terá o que sonhava. Tudo bem, seu desejo foi realizado. Mas o que te dá prazer hoje em dia, provavelmente não dará daqui uns tempos. A idade faz com que percamos o prazer em desfrutar de certas coisas, seja uma pelada com os amigos, seja uma cervejinha no boteco “pé sujo”, ou até mesmo uma micareta de pegação desenfreada. E aí, valeu a pena não ter passado por essas experiências em prol da busca de um ideal que você nem mesmo sabe se lhe renderá satisfação?

Nossa vida é o somatório de experiências. O celular de última geração, o carrão, o apartamento chique dificilmente entrarão em suas conversas e relatos de seu passado. Mas suas experiências sim, farão parte de sua memória, dirão quem você é e quem você foi, falarão muitas coisas sobre sua personalidade. Não há porque deixar essas oportunidades passarem sem vivenciá-las, não há porque ser somente mais um ser que tem, mas que não é. O ter passa, se torna obsoleto, sem utilidade e com alta dosagem de futilidade. O ser não, o ser fica, se impõe, é sempre uma soma na sua vida.

Então, caro amigo, cuidado com o estilo de vida que adota. Tudo bem em buscar ganhar mais, ter estabilidade, ter reconhecimento na sua carreira. Mas em nada isso vai servir se você não viveu sua vida, se não passou por experiências que, quando for mais velho, ainda que tenha muito dinheiro, não voltarão jamais. Viva mais, use seu tempo de forma mais coerente. Não seja um viciado em trabalho ou estudo, deixando de lado pessoas boas, momentos bons. O preço que você pagará por essa omissão não terá como ser ressarcido.
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É isso.

terça-feira, 7 de julho de 2009

O que? Quando? Como?

Você, caro amigo, com certeza já passou por momentos em que teve que optar por uma coisa e, ao mesmo tempo, abrir mão de outra que considerava importante. Isso é rotineiro em nossas vidas. Em diversas situações somos forçados a optar, algumas vezes com tempo para pensar, outras vezes com decisões tendo que ser tomadas ali, na hora.

Abrir mão de determinadas coisas causa angústia, sofrimento, arrependimento, vontade de voltar atrás na decisão, principalmente quando a opção escolhida não supre a necessidade, não tem o resultado esperado. Algumas vezes esse retorno é possível, mas na maioria das vezes não. Como administrar esse tipo de situação, minimizando os impactos na nossa vida e na das outras pessoas envolvidas?

Nesse jogo de escolha não temos nenhum instrumento que irá analisar quantitativamente as opções e dar o veredicto sobre qual será mais benéfica para nossas vidas. Amigos, parentes, pessoas próximas, sempre poderão das suas opiniões, tentar mostrar um ponto de vista diferente que pode até clarear as idéias, trazer soluções diferentes. Acontece que a decisão final é nossa e, por isso, pesa na decisão um fator que entra em cena nessa hora, chamado intuição. É a intuição que fazer a balança pender para determinado lado logo de cara, logo quando estamos prestes a ter que tomar a decisão.

O problema da intuição é que ela é carregada de emoção, ao passo que o mais exigido numa hora dessas seria a razão. Seria, pois somente a razão nos prega ao chão, não nos deixa sonhar mais alto, vislumbrar possibilidades. Por isso a intuição se faz tão importante numa escolha.

Sabe, caro amigo? Esse texto não é resposta para nada, assim como penso que nenhum outro é. Mas esse, em especial, é somente para deixar registrado aqui meu desejo de mudar. Mudar em que ainda não sei. Mas mudar, apenas mudar. O universo conspira para isso, dá sinais, cada dia mais claros, que essa mudança está chegando. É preciso enxergar isso, ver que não existe somente um lado da moeda, que não existe somente uma fruta no pé. A estação é inverno, mas vem aí a primavera para fazer a árvore da sua vida florescer, dar frutos novos, frutos que saciarão seus desejos, que te mostrarão novos sabores. Viva esses sabores, esses cheiros, extraia da vida um novo suco, um suco que garantirá uma energia até então desconhecida.
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É isso.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Sonhos interrompidos

O que se faz quando não se consegue aquilo que você tanto batalhou? Chora? Reclama? Fecha a cara e o tempo para quem está próximo a você? Não sei. Cada um tem seu meio próprio de mostrar descontentamento com as adversidades que a vida nos traz. Feliz ninguém fica e isso é consenso. Talvez a única alternativa reconfortante seja pensar que aquele momento não era o ideal para se ter a coisa almejada.

Ninguém gosta de perder. A gente pode até saber perder, e é importante que saibamos mesmo. Mas gostar de perder é um sentimento difícil, para não dizer impossível, de ser encontrado. Perder nos faz tirar lições, ver onde erramos, onde erraram conosco, ver o que poderia ter sido diferente. Ainda assim não é possível definir com exatidão o que teria acontecido caso tivéssemos feito diferente. De todo modo, é chato demais não conseguir as coisas.... ainda mais quando se batalha tanto...

Uma coisa é certa: ficar lamentando, somente, não adianta. Ainda mais quando essa lamentação vira um hábito de vida. Chega uma hora que ninguém mais tem pena de você, as pessoas nem querem mais ouvir suas histórias. A vida é assim. A gente sensibiliza as outras pessoas por um tempo, mas depois isso só tem importância mesmo para nós. Se com a morte, evento terrível, acontece isso, que dirá com um problema seu, uma coisa mal resolvida.

É, caro amigo, as coisas não andam sempre da maneira que a gente acha que deva andar. E que bom que é assim, senão o mundo seria uma verdadeira zona, já que os gostos, as vontades e desejos são variáveis. E bom que seja assim também para que possamos crescer como pessoas, para que possamos encarar as coisas com mais seriedade, dedicando nosso tempo e nossas habilidades com mais afinco.

Chega de lamento! A fase ruim se foi como uma gota de chuva que passou. O ciclo da água é lento, mas é certo. Com o tempo a gota que passou vai evaporar, virar nuvem e voltar. Como a fase ruim, a chuva com aquela gota nem sempre vai atingir a mesma pessoa, nem sempre a crise retorna. Não faça a dança da chuva, não atraia novas crises. Dê um ponto final nessa história e recomece outra. O final nunca é igual, pois o enredo vai mudar, você vai mudar, e para melhor, tenha certeza absoluta disso. Quando a gente quer de verdade, nem sempre a gente consegue, mas sempre a gente arruma forças para superar o que não deu certo.
É isso.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Tentar

Tentar. Essa é uma daquelas palavras que nos rodeia, uma espécie de mantra que é dito por muitas pessoas, mas colocado em prática por poucas. A coragem de buscar o desconhecido, de entrar numa questão em que a possibilidade de dar errado é grande o suficiente para desanimar os mais fracos.

Nem todas as vezes estamos aptos a tentar. Talvez tenhamos uma espécie de bloqueio que nos impeça de ir muito além da nossa capacidade. Será? Difícil ser preciso nessa resposta. Essa bloqueio pode até existir, mas é temporal, momentâneo. Em um instante pode ser que lhe falte força para buscar o que está além do alcance, o que não deve ser visto com um ponto final na questão, mas apenas uma vírgula. Quem sabe esse interstício temporal não ocorra para que haja uma melhor preparação para encarar o desafio?

É preciso superar o medo. O verbo tentar abre o campo da possibilidade, de aventurar, de empregar os meios necessários para obter algo que se deseja. Não é um verbo de comando fixo, que carrega o peso da não execução. Tentando se obtém experiência, maturidade para que, na próxima tentativa, o sucesso esteja mais próximo.

Escrevo esse texto tentando (ops!) mostrar a mim mesmo a importância de ir atrás daquilo que acredito, mas que tenho ciência que posso não conseguir. Quero acreditar mais na hipótese do sucesso do que do fracasso, mas não me abstenho de imaginá-lo como uma possibilidade. Algumas vezes escrevo como desabafo, outras com o intuito de internalizar a ideia, como é esse caso. A força de vontade busca suas energias em diversas fontes. Acreditar em você, no seu potencial, é motivação para tentar e buscar aquilo que você quiser. Se não der, não era para você, talvez seu talento seria sub-aproveitado naquela meta desejada.

É isso.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Eu, tu, ELES

É indiscutível que precisamos de outras pessoas em nossas vidas, que precisamos compartilhar nossas vitórias e, sobretudo, nossas derrotas, com intuito de minimizar o sofrimento e tentar enxergar soluções sob outros pontos de vista. É natural que busquemos este auxílio, seja ele com os pais, namoradas, amigos, enfim, qualquer pessoa que nos seja próxima e que esteja pronta para nos ouvir.

O conforto de estar amparado em braços confiáveis não tem preço, é importante para nos reerguer nos piores momentos, nos trazer de volta à realidade e nos mostrar que qualquer problema, por pior que seja, é passageiro. Sabemos disso, mas só nos atentamos quando ouvimos de outra pessoa, já que nos períodos de crise enxergamos em ângulo reduzido, vendo pouca ou nenhuma saída para o que nos aflige.

A grande questão é saber até que ponto estamos buscando este apoio e a partir de que instante esta ajuda vira interferência, intromissão excessiva. Há pessoas que são extremamente dependentes de outras, que precisam a todo momento saber qual a opinião daqueles que os cercam, que vivem em função do que o outro pensa. E, para fechar a lógica, há pessoas que vivem para controlar a vida de outras, que querem emitir opinião sobre tudo, controlando cada passo daquele que se deixa dominar.

Geralmente este tipo de controle é feito pelos pais. Talvez por um sentimento de frustração por não ter obtido êxito em algum ponto da vida, em alguma profissão, certos pais têm por hábito controlar tudo o que os filhos fazem, querendo que eles sigam por caminhos que, em última análise, seriam seguidos, caso fosse possível, por eles próprios. E não é somente no campo profissional que isso é visto. Alguns pais manipulam a ponto de controlar o que o filho vai vestir, como vai se comportar em um evento, com quem vai namorar. E você, caro amigo, deve imaginar que estou falando de uma relação de pais com uma criança, certo? Errado! Este tipo de relação acontece até mesmo quando o filho atinge a fase adulta, quando já tem suas características e personalidade bem definidas.

E qual seria o motivo desta relação “eu-mando-você-faz”? Genericamente falando, penso que seja a dependência. E não somente dependência financeira, como muitos pensam. Conheço casos de pessoas que já teriam condições de cortar o cordão umbilical, mas que sentem medo de sair de casa, de perder aquele conforto, e por isso se submetem a este processo de interferência, vivem em função do que os pais desejam. Trocam a liberdade pelo conforto, vendem uma das coisas mais preciosas por um preço medíocre. Será que vale a pena? Bom, eu penso que não e pelos casos que observo, vejo que as pessoas que optam por esse estilo de vida não são felizes, não vivem com aquele prazer de viver.

Só de pensar em perder o conforto, a roupa lavada pela mamãe, a comidinha pronta, algumas pessoas vão deixando as coisas acontecerem, sem perceber que, num certo momento da vida, acordarão para a realidade e observarão que não fizeram nada daquilo que queriam fazer, que tudo o que foi feito até então teve manipulação externa. Só que esse momento de acordar pode ser muito tarde e as oportunidades perdidas não mais voltarão.

Já passei por esse tipo de situação em certo momento. Não com os pais, já que sempre tive uma criação muito liberal, mas com os sogros. Fui me deixando envolver demais, expondo demais a vida, deixando-os saber tudo o que se passava no relacionamento. Até certo ponto não me incomodava, já que tínhamos de tudo com eles, era praticamente um relacionamento entre pais e filhos. Acontece que, com o passar do tempo, a interferência foi se excedendo, foi chegando a um ponto de querer saber a todo momento para que lugar sairíamos, qual horário do retorno, quem foi conosco, enfim, exigiam informações como se fossem realmente meus pais, pais de um adolescente.

Como acontece com algumas pessoas que conheço, vendi minha liberdade por um conforto, por um apoio. Paguei caro por isso e vi que minha vida era controlada, em certo ponto, por outras pessoas. Minha sorte é que essa interferência se restringia mais ao relacionamento, apesar de, algumas vezes, respingar na minha vida particular. Mas ainda assim aquilo me incomodava. Como nós devemos tirar lições das coisas que acontecem, vi que não valia mesmo a pena manter este tipo de relacionamento com os sogros. Eles são importantes sim, não é para brigar, ficar cada qual no seu canto. Mas também não é para ter tanto contato, ter uma dependência que se transformará, inevitavelmente, em uma interferência.

É isso.