Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Eu, tu, ELES

É indiscutível que precisamos de outras pessoas em nossas vidas, que precisamos compartilhar nossas vitórias e, sobretudo, nossas derrotas, com intuito de minimizar o sofrimento e tentar enxergar soluções sob outros pontos de vista. É natural que busquemos este auxílio, seja ele com os pais, namoradas, amigos, enfim, qualquer pessoa que nos seja próxima e que esteja pronta para nos ouvir.

O conforto de estar amparado em braços confiáveis não tem preço, é importante para nos reerguer nos piores momentos, nos trazer de volta à realidade e nos mostrar que qualquer problema, por pior que seja, é passageiro. Sabemos disso, mas só nos atentamos quando ouvimos de outra pessoa, já que nos períodos de crise enxergamos em ângulo reduzido, vendo pouca ou nenhuma saída para o que nos aflige.

A grande questão é saber até que ponto estamos buscando este apoio e a partir de que instante esta ajuda vira interferência, intromissão excessiva. Há pessoas que são extremamente dependentes de outras, que precisam a todo momento saber qual a opinião daqueles que os cercam, que vivem em função do que o outro pensa. E, para fechar a lógica, há pessoas que vivem para controlar a vida de outras, que querem emitir opinião sobre tudo, controlando cada passo daquele que se deixa dominar.

Geralmente este tipo de controle é feito pelos pais. Talvez por um sentimento de frustração por não ter obtido êxito em algum ponto da vida, em alguma profissão, certos pais têm por hábito controlar tudo o que os filhos fazem, querendo que eles sigam por caminhos que, em última análise, seriam seguidos, caso fosse possível, por eles próprios. E não é somente no campo profissional que isso é visto. Alguns pais manipulam a ponto de controlar o que o filho vai vestir, como vai se comportar em um evento, com quem vai namorar. E você, caro amigo, deve imaginar que estou falando de uma relação de pais com uma criança, certo? Errado! Este tipo de relação acontece até mesmo quando o filho atinge a fase adulta, quando já tem suas características e personalidade bem definidas.

E qual seria o motivo desta relação “eu-mando-você-faz”? Genericamente falando, penso que seja a dependência. E não somente dependência financeira, como muitos pensam. Conheço casos de pessoas que já teriam condições de cortar o cordão umbilical, mas que sentem medo de sair de casa, de perder aquele conforto, e por isso se submetem a este processo de interferência, vivem em função do que os pais desejam. Trocam a liberdade pelo conforto, vendem uma das coisas mais preciosas por um preço medíocre. Será que vale a pena? Bom, eu penso que não e pelos casos que observo, vejo que as pessoas que optam por esse estilo de vida não são felizes, não vivem com aquele prazer de viver.

Só de pensar em perder o conforto, a roupa lavada pela mamãe, a comidinha pronta, algumas pessoas vão deixando as coisas acontecerem, sem perceber que, num certo momento da vida, acordarão para a realidade e observarão que não fizeram nada daquilo que queriam fazer, que tudo o que foi feito até então teve manipulação externa. Só que esse momento de acordar pode ser muito tarde e as oportunidades perdidas não mais voltarão.

Já passei por esse tipo de situação em certo momento. Não com os pais, já que sempre tive uma criação muito liberal, mas com os sogros. Fui me deixando envolver demais, expondo demais a vida, deixando-os saber tudo o que se passava no relacionamento. Até certo ponto não me incomodava, já que tínhamos de tudo com eles, era praticamente um relacionamento entre pais e filhos. Acontece que, com o passar do tempo, a interferência foi se excedendo, foi chegando a um ponto de querer saber a todo momento para que lugar sairíamos, qual horário do retorno, quem foi conosco, enfim, exigiam informações como se fossem realmente meus pais, pais de um adolescente.

Como acontece com algumas pessoas que conheço, vendi minha liberdade por um conforto, por um apoio. Paguei caro por isso e vi que minha vida era controlada, em certo ponto, por outras pessoas. Minha sorte é que essa interferência se restringia mais ao relacionamento, apesar de, algumas vezes, respingar na minha vida particular. Mas ainda assim aquilo me incomodava. Como nós devemos tirar lições das coisas que acontecem, vi que não valia mesmo a pena manter este tipo de relacionamento com os sogros. Eles são importantes sim, não é para brigar, ficar cada qual no seu canto. Mas também não é para ter tanto contato, ter uma dependência que se transformará, inevitavelmente, em uma interferência.

É isso.