Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Então é não, senão...

Estatisticamente, possuímos apenas duas alternativas quando somos questionados, ou seja, 50% de chance de usar um sim, 50% de usar um não. Pena que a estatística não é usada nas relações, no contato com as outras pessoas no nosso dia a dia. Diariamente nos vemos diante desse conflito, de usar o sim ou o não de acordo com o que realmente queremos, e não apenas para agradar ou não magoar.

Ficar em cima do muro nem sempre resolve, apesar de ser uma solução menos traumática em muitos casos. A chance de não causar transtornos é menor se não assumirmos uma postura que venha contrariar pontos de vistas alheios. Diga-me, caro amigo, se você já conviveu com pessoas assim, que tentam ser sempre conciliadores de tudo e de nada, que não adotam o ponto de vista apenas para não baterem de frente com ninguém, ainda que esse pequeno embate em nada interferirá em sua vida. É mais fácil encontrar esse tipo de pessoas do que se imagina.

Ser flexível é uma característica importante, não é necessário bater o pé e brigar apenas para satisfazer o ego. As mudanças de opiniões ocorrem naturalmente, na medida em que vamos amadurecendo, vendo que nada é imutável, que o ponto de vista de hoje pode não ser, necessariamente, o de amanhã. O nome disse é evolução. Evoluímos quando somos capazes de nos colocar no lugar do outro, para tentar entender o motivo daquela opinião; evoluímos ao aceitar que nosso ponto de vista é retrógrado, que não cabe mais naquele momento, naquela situação.

Dizer sim a tudo e a todos vai nos tornar pessoas mais queridas, é bem provável que isso aconteça. Fato é que, ser solícito sempre é bom para quem está de fora, mas pode ser terrível para quem age assim a todo o momento. Fazer coisas que nos desagradam apenas para satisfazer desejos de outros não é produtivo, não nos tornam pessoas melhores. As coisas realizadas dessa maneira não carregam a carga do prazer, da nossa dedicação. Isso pode nem ser notado por quem recebe, mas nós, que produzimos, vemos que ali não tem a perfeição que um ato feito de coração teria.

Perde-se muito ao evitar o uso do não. Perde-se confiança, porque as pessoas começam a ver que sua personalidade é frágil, que não possui valores próprios, ideais. Perde-se oportunidade, visto que despendemos tempo e energia em tarefas que não nos satisfazem. E, por fim, perde-se a auto estima, pois iremos viver sempre em função daquilo que esperam de nós, e não do que realmente acreditamos, bastando que outra pessoa diga um sim melhor que o nosso para que aqueles que achamos estar ao nosso lado nos deixem.

Acredite em você, saiba que dizer não a alguém pode ser benéfico, pode mudar o destino daquela pessoa. No início pode até aparecer uma mágoa pelo fato dela ter sido contrariada, de não ter o desejo satisfeito. Mas ela vai amadurecer, vai refletir, ver que nem sempre se tem aquilo que se quer, que o mundo não vai dar o mesmo tratamento que os pais deram. Com isso ela vai buscar o melhor, correr com as próprias pernas, enxergar que ela consegue sem ter que depender de ninguém. E, tenha certeza, um dia ela será grata por ter ouvido aquele sonoro não de você.

É isso.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Orgulhoterapia

Ninguém gosta de ser contrariado e, se fosse possível, as coisas deveriam acontecer sempre do modo que pensamos ser melhor. Sim, é um pensamento egoísta e que, felizmente, deixamos de colocar em prática por diversas questões, principalmente quando pensamos que isso só vai dificultar as relações interpessoais, que vai nos tornar pessoas menos sensíveis às causas alheias.

Cada um reage de uma maneira quando observa que não se seguiu aquilo que pensava, que achava ser a melhor opção. Uns ficam tristes, outros irritados, cabisbaixos e até mesmo depressivos. Há aqueles que internalizam e sofrem sozinhos e aqueles que deixam transparecer, não importando com o que as pessoas em volta irão achar daquele comportamento.

Fato é que, variando apenas quantitativamente de pessoa para pessoa, um sentimento vem à tona nesse momento. Esse sentimento é o que conhecemos por orgulho. Buscando auxílio do meu amigo Aurélio novamente, orgulho pode ser definido, no sentido que busco aqui, como um “conceito elevado ou exagerado de si próprio; amor-próprio demasiado; soberba”. Será que tal sentimento já rondou seu coração alguma vez, caro amigo? Bem provável que sim, não é?

Não é passível de crítica se isso já lhe ocorreu alguma vez. É natural sentirmos isso quando nos vemos em situações nas quais somos contrariados. Nosso amor próprio faz com que as possibilidades de resolução daquele determinado problema sejam reduzidas. Em alguns casos, não conseguimos enxergar que apenas uma atitude, uma palavra, poderia minimizar os impactos negativos de nossas decisões. Mas não, preferimos assumir aquela postura como uma verdade absoluta, sem qualquer possibilidade de alteração.

O orgulho só nos diminui, apesar de parecer o contrário. A própria valorização, se feita de forma demasiada, também nos diminui. Não aceitar o ponto de vista contrário, ou ao menos tentar compreendê-lo, idem. Como visto, caro amigo, se isolar dentro de seu imaginário, de suas convicções, pode ser maléfico, pode torná-lo uma pessoa menos querida, menos acessível. O que se ganha sendo intransigente? Absolutamente nada.

A pessoa orgulhosa não assume que errou, não consegue pronunciar a palavra desculpa. Em muitos casos tem ciência que não agiu corretamente, que poderia ter adotado outra postura. Fica sem conversar com pessoas queridas porque não enxerga nada além do seu próprio ponto de vista. Perde dias, meses e até mesmo anos de um bom relacionamento com uma pessoa querida, ainda que essa pessoa tente restabelecer a relação. E para que tudo isso, a troca de que? Mais uma vez é resposta é: para nada.

Não há muito que se dizer a uma pessoa que tem no orgulho a base de seus sentimentos. É muito complicado querer mostrar a ela que existe outro caminho, que outro ponto de vista pode ser mais interessante. Ela mesma precisa mudar, impor barreiras a esse sentimento, enxergar que em nada ele pode beneficiar. Isso é um processo de auto conhecimento, de evolução, que deve ser duradouro, uma batalha diária. Uma transformação lenta e gradual, com pitadas caprichadas de humildade, compaixão, bom senso, enterrando esse orgulho o mais fundo possível, para que ele jamais volte.

E como lidar com pessoas assim? Eis uma resposta ainda mais complicada. É louvável tentar contato, aparar arestas, mostrar o outro ponto de vista de uma forma mais sutil, menos conflituosa. Mas até que ponto, até quando é possível agir dessa maneira? Acredito que seja até o momento em que sua vida não será anulada por causa disso. Correr atrás de alguém que não aceita que errou, que não vê que estamos perto para ajudar, é desgastante e, na maioria dos casos, não surte resultados. Fique bem consigo mesmo, pense que você fez o máximo que poderia ter feito. Um dia, e é bem provável que esse dia chegue, o orgulhoso verá que poderia ter sido diferente, que ele jogou fora a chance de ser feliz naquele momento por pura vaidade. Aí será tarde, bem tarde...

É isso.