Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

ÚLTIMOS INSTANTES




“Se tiver que amar, ame hoje. Se tiver que sorria, sorria hoje. Pois o importante é viver o hoje. O ontem já foi e o amanhã talvez não venha”.  Não irei pesquisar a autoria dessa frase. Registro apenas que ela estava tatuada nas costas de uma menina de dezoito anos, uma das mais de duzentas vítimas fatais da tragédia em uma boate da cidade de Santa Maria. Uma menina com toda uma vida pela frente, com sonhos, com projetos, com desejos. Tudo isso se foi em apenas alguns instantes, tudo enterrado com muita dor e sofrimento, um ponto final em um livro com muitas páginas em branco. 

É de se pensar, caro amigo, quando nos deparamos com situações assim. O que estamos buscando para nossas vidas? Pelo que exatamente vale abrir mão de prazeres, em prol de um futuro que a gente não sabe se vem, quando vem, como vem?  Ao nos depararmos com um fim de uma vida como esse, temos a certeza da nossa fragilidade e perecidade neste mundo. Independente de crenças, vivemos aqui um breve momento, uma vida que passa em um piscar de olhos, isso quando ela segue seu curso normal, com a morte ao envelhecer. Imagine então um cessar da vida tão repentino como o dessa tragédia?

Abrimos mão de muitas coisas baseados em conceitos morais, em economia que beira a mesquinhez, em preocupação com opiniões alheias. “O medo é o pai da moralidade”, já dizia Nietzsche. Vivemos, em muitos casos, uma vida medíocre por medo, medo de receber críticas, medo do que irão achar, medo de ser estigmatizado negativamente. Passamos anos e anos reprimindo sentimentos, nos abstendo de sermos um pouco mais felizes, tudo isso em nome de uma ordem moral, de um conceito criado por sabe-se lá quem. E aí ela chega, a dona morte, levando tudo o que ficou preso, levando toda a vontade de fazer, levando todos os “nãos” que deveriam ter sido ditos, todos os “sins” que ficaram apenas em nosso pensamento.

Não é uma apologia à anarquia, não é isso. O limite deve ser sempre em não se fazer maldade com as outras pessoas, em não incomodar a ponto de causar irritação, de causar grandes desavenças. Mas agir sempre de acordo com o que o outro quer é se limitar demais, impedir criações, descobertas, experiências. Há um preço que se paga por ser livre e muita gente não está disposta a pagar por ele, já que costuma ser um valor alto. Dar o grito de independência muitas vezes implica em abrir mão de conforto, de segurança, de mimos. Ponderar entre essas duas coisas não costuma resolver. Não se é totalmente livre, não se é totalmente dependente. Viver em cima do muro é lamentável, vive-se uma vida incompleta, inconsistente, ou seja, não se vive.

É isso.

Dedico este pequeno texto aos vitimados desse lamentável acidente. Que todas as famílias recebam o carinho das pessoas que rezam, oram e pensam nelas. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

MENOS “TWITTAR”, MAIS “TU TÁ AÍ?”




Em tempos de redes sociais, temos mais “amigos” em alguns meses do que os amigos acumulados ao longo da vida. Basta criar uma conta, sair adicionando e ser adicionado, para ter uma grade de amizade imensa, com pessoas já conhecidas e com outras que se conhece por afinidade, por interesse em alguma área em comum. Vive-se, atualmente, uma vida online, com as pessoas perto fisicamente, mas centradas em seus equipamentos ligados à rede, interagindo, sendo altamente sociáveis, informando praticamente tudo o que estão fazendo, mas se esquecendo de que logo ali, a pouquíssimos metros, há um ser real, tangível, do jeito que é e não do jeito que ele gostaria de ser. Não é apenas um perfil criado com cuidado, que exalta apenas as qualidades, um perfil sem defeitos.

Albert Einstein profetizou, certa vez: "Temo o dia em que a tecnologia se sobreponha à nossa humanidade. O mundo só terá uma geração de idiotas”. E não é mesmo que nosso camarada tinha razão? Basta dar uma volta em um shopping ou até mesmo em um bar. Quantas e quantas pessoas estarão ostentando seus celulares, focadas neles. Acho engraçado ver em uma mesa de bar três ou quatro pessoas, todas elas com seus aparelhos em punho, digitando e postando fotos do local, como se estivessem na maior diversão do mundo, ao passo que tiveram que recorrer à tecnologia para aliviar o tédio e até mesmo a falta de assunto, a falta de costume de estar com as pessoas no mundo real.

Não caro amigo, não sou contra estar conectado, ter um perfil em redes sociais. O que acontece é que, como em diversas outras áreas da vida, as pessoas não conseguem ponderar, se jogam integralmente em determinada situação e deixam as outras de lado. Pode atualizar sim seu perfil, postar sua foto com a galera, postar a foto daquele local bonito que você visitou. Mas precisa ficar fazendo isso justamente no momento em que está acontecendo? Precisa tirar foto de tudo o que faz sempre? Que tal trocar a foto da garrafa de cerveja geladíssima por uma introdução a um assunto bacana? Que tal deixar a postagem de onde está de lado e trocá-la por uma boa olhada ao redor, por uma aproximação, pelo início de uma nova amizade real?

Ter muitos amigos nas redes não significa nada se os amigos que você realmente quer por perto estão distantes. Não adianta achar aquele amigo que não se via há 20 anos se quando houver uma oportunidade de falar pessoalmente o papo não fluir, ou pior, se nunca mais, apesar de você “vê-lo” todo dia, vocês se encontrarem no mundo real, offline. Fica uma amizade superficial, com a sensação de estar sabendo tudo o que ele faz e ao mesmo tempo não saber nada. Conhecimento superficial, só das coisas boas – isso definitivamente não é amizade.

Dê valor aos amigos que estão próximos, principalmente aos que te acompanham desde a juventude. Não há nada que pague o tempo que se pode passar junto a eles, relembrando histórias, tirando sarro um do outro, vendo como o tempo passou e a sintonia continua a mesma. Quando estiver próximo, desconecte-se e vá se encontrar com quem pode curtir muito mais sua vida do que uma simples apertada de botão.

É isso. 

sábado, 12 de janeiro de 2013

DOIS OUVIDOS, UMA BOCA




É de bom grado prestar atenção nos chamados ditados populares, aquelas frases que nossos avós e pais costumam soltar diante de uma situação mais crítica ou mesmo como uma forma de estimular uma reflexão. Geralmente estas frases entram e saem da cabeça na mesma velocidade, quase nunca provocam a tal reflexão pretendida. E desconfio que em muitos casos elas também sejam ditas da boca para fora, não se faz uma análise de qual mensagem elas trazem consigo.

Um destes provérbios que escutamos por ai é o famoso “Você tem uma boca e dois ouvidos. Use-os nesta proporção.” Não, caro amigo, não vou tratar aqui de pessoas fofoqueiras ou daquelas que falam sem moderação. Aqui o foco são aquelas pessoas que não conseguem guardar uma informação, que repassam segredos importantes, que não conseguem deixar a língua dentro da boca. Esse tipo de pessoa prejudica relações, pessoas, empresas, trabalhos. E, por incrível que pareça, elas acreditam que estão fazendo o certo e criticam quem age em desconformidade com seus princípios.

É normal que as pessoas gostem de contar as novidades, que sintam prazer em mostrar o quanto a vida está boa. Mas é preciso, necessariamente, que todas, absolutamente todas as informações pessoas sejam transmitidas? Penso que não. Não é preciso falar o cardápio que comeu ontem, não tem que dizer para onde foi e com quem foi a todo o momento, uma briguinha sem propósito também não deveria sair daquele ambiente. Esse relatório não é exigido, as pessoas passam porque querem passar, mas não enxergam o quanto isso atinge outras pessoas que estiveram envolvidas na história, pessoas que tiveram seus nomes divulgas sem a devida autorização

Saber o que falar, quando falar, para quem falar, é extremamente importante. Em muitos casos uma simples informação, um simples relato, vai virar uma fofoca, vai se deturpar, vai trazer prejuízos, gerar inimizades. Há coisas que devem ficar onde aconteceram, apenas com as pessoas que vivenciaram aquilo. Papinho atravessado é chato, ruim, na maioria dos casos cria situações muito maiores do que elas realmente são, por isso é melhor evita-lo. Gosto de uma citação utilizada por uma amiga, da autoria de Dick Corrigan (perdoem-me caso não seja a autoria real!): “Pessoas brilhantes falam sobre ideias. Pessoas medíocres falam sobre coisas. Pessoas pequenas falam sobre outras pessoas”.

É isso.