Algumas considerações iniciais

Tentarei manter uma regularidade nas postagens, mas não combinarei prazos. Por ser uma das válvulas de escapes utilizadas por mim, deixarei que este blog seja alimentado de acordo com a inspiração, e não com o calendário.

Gosto dos comentários. Não são, para mim, apenas um sinal de popularidade, como a maioria dos blogs que vejo. Eles têm um significado maior, que é o de saber como as pessoas que aqui estão pensam sobre os assuntos que comento. Portanto, fique à vontade para escrever. Na medida do possível, responderei a cada um deles.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

SUSPIRO


Suspiro
inspiro, transpiro
não tira
que não tiro

Instigo
Sabendo que dali não mais
Castigo
na via de leva e traz

Misturo
passado e futuro
o claro e escuro
o tenso e o intenso

Me julgo
esquecendo a sentença,
reincidência
Me julgam
mas esquecem do interno,
inocência.
Procuro
achar o certo no incerto,
incoerência 



sábado, 13 de dezembro de 2014

ACALENTO



Só fica o lamento,
a saudade, o sofrimento
a dor que não comento
A sorte é que o acalento
que satisfaz
do complemento
que traz de volta
todo o intento
buscando essência, buscando dentro
Ainda existe, e ainda tento
e por enquanto
é o que sustento



sexta-feira, 21 de novembro de 2014

FULMINANTE



Olhar fulminante
Penetra, instiga
que prende, castiga
cravando o instante
 
Profundo, vulgar
decente, sem par
impuro, veneno
que escassa o ar
 
No risco, sem fôlego,
embaça, provoca
embarca, me toca
e se envolva na troca




quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DISSIMULADO




Finjo que tudo vai bem
Enquanto tento enquadrar
Coisas fora do lugar
Coisas que nem sempre vêm
Coisas de machucar

Busco o que já não foi
Se é que não sou
O que passou, o que viveu
O o que sinto ou que estou
Ou que sinto, o que doeu

A história será relato
De todo tudo, de todo ato
Que o que é, quiçá ingrato
Ou, quem vê, prazer barato
Martelo bate, fato. 




quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O BALÃO



Supermercado grande, novembro de 2014, um pai, uma filha, um balão da Peppa Pig, um telhado.

Era final de tarde comum, final de domingo. O pai e a filha na fila do caixa, a menina com um pequeno balão, daqueles inflados com gás hélio, todo colorido, da personagem infantil Peppa Pig. Tudo muito comum, muito lindo também, até que, ao ver que a fila andou, a menina puxa a cordinha do balão com um pouco mais de força. A frágil cordinha se rompe, ficando presa apenas no punho da criança, enquanto o balão sobe lentamente, cerca de 5 metros, parando no telhado do supermercado.

De pronto a mocinha encheu os olhinhos de lágrimas, mas segurou o choro com firmeza. O pai, inicialmente, olhou com ar austero, mas viu que a culpa não foi de sua filha. Olhando para o alto e vendo lá seu balão, ainda com os olhinhos tristes, marejados, a pequena, com a maestria que ainda não sabe que possui, solta:

-Papai, o bom é que o telhado ficou mais lindo com o meu balão!

Ora, ora, ora! Uma pequena, do alto de sua inocência, demonstrando uma sabedoria que deveria ser nosso mantra de todos os dias: buscar o bom quando algo de mau ocorre.

Passamos grande parte de nossa vida vendo as coisas pelo lado ruim, pelo lado do azar. Culpamos o destino, o colega ao lado, os parentes, a chuva, o sol. Deixamos de lado a parte que, na maioria dos casos, é responsável por tudo isso: nós mesmos. Esquecemos de agir ao invés de apenas reclamar. Negligenciamos que essa quantidade de energia negativa, esse pensamento pessimistas, não traz, independente do credo, coisas boas.

Busquemos o telhado lindo sempre. Há de ter alguma coisa boa em praticamente tudo. Encher os olhos de lágrimas, derramá-las, faz parte do processo, claro! Mas que se olhe para cima, perceba que na ausência do telhado o balão sumiria de vista, se perderia no mundo, e nunca mais poderia ser apreciado por ninguém. Que haja sempre telhados para amparar as coisas ruins, colocar limite nelas, para que nosso sofrimento seja passageiro, momentâneo, amenizável.


É isso. 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

VENHA



Semente que foi lançada
Fez paixão ser realçada
Figura que surge em susto
Trazendo a paz
entrelaçada

Vinde bem, figura boa
Traga amor, traga ternura
Chegue logo, formosura
E faça rir, que o tempo voa

Que una tudo, que una todos
Que por um dia, de fraco ser
Deixaram o mal prevalecer
Deixaram até deixar viver
Agora são somente tolos
que aprendem com
quem ainda vai ser




sexta-feira, 26 de setembro de 2014

RESILIÊNCIA



Bata, não mude
Que deforma e sempre volta
Escute, acuda
Que apesar da resiliência,
toda essa insistência
vai causar revolta,
vai gerar ferida,
viagem só de ida
que se torna penitência.

Empaque, insista
que o erro é de quem vê
se iluda, miúda,
e viva sem lastro
entrando para a lista
daquelas que passam sem deixar rastro


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

TOTALMENTE





Despretensiosamente,
lá rolou
intensamente;
foram lá,
lentamente,
cientes de que,
puramente,
seria incoerente.

Foi consciente,
pararam bruscamente,
quando o que se mente,
machuca tanto que se sente
em parte toda, parcialmente
em parte una, totalmente.





quinta-feira, 14 de agosto de 2014

PODE SER



Andam dizendo
É o que se diz por aí
Que pode ser amor
Que pode ser paixão
Que pode ser tesão

E que pode não ser nada
Pode ser uma cilada
Pode ser encruzilhada
E que pode ser gostoso
mas também moroso
e doloroso

E por que não intenso?
Com bocado de carinho
Com afasto de sozinho
Com velas, luz baixa, bom vinho.
Pode ser o que tem de ser
Deve ser o que tem de ser
Viver o que há de se viver



sábado, 9 de agosto de 2014

PÃE


Não escolhemos onde vamos nascer. Não temos a chance de saber em qual família vamos cair. Mas é engraçado como as coisas se encaixam de uma forma “legoliana”. Você acha que seus pais são os melhores que possam existir no mundo. O colega do lado acha a mesma coisa dos pais dele.  Com raras exceções isso não ocorre. E também ocorrem casos em que a figura dos pais recai sobre uma pessoa, ou o pai ou a mãe.

E lá, naquele interior mineiro, aparece uma mulher guerreira. Aos 32 anos eis que surge em sua vida uma pequena figura. Uma mistura de um bocado de vontade com outro bocado de falta de planejamento. Mas quem disse que tudo nessa vida precisa necessariamente ser planejado? Pois é, há coisas que não são planejadas e que acabam se tornando boas. Acredito que tenha sido esse caso. Ao menos é que as pessoas falam e que o personagem da história sentiu e sente.

A vida foi seguindo, aos trancos e barrancos, mas foi. Não foram poucos os momentos de luta, de raiva, de angústia, de limitações. Mas eles passaram, como ela sempre acreditou que passariam. Ninguém, senão ela, acreditava que tudo aquilo poderia dar certo. E deu. Não é do ponto de vista financeira apenas.  É também no ponto de vista da honestidade, do caráter, da vontade de fazer as coisas do jeito certo. E da vontade de retribuir todo o sacrifício, todas as horas de pedidos, todos os quilômetros de caminhadas, todo o amparo. Isso talvez falte da parte de quem sempre recebeu, talvez sempre vá faltar. Mas não falta a vontade de retribuir.

As projeções jogavam para baixo. O comentário geral era de que não daria certo. A boca miúda dizia que criança criada naquelas circunstancias não poderia ter um futuro promissor. Mas não foi assim. Ela foi lá, comprou a briga do jeito que deu, usou as ferramentas que eram acessíveis, colocou a própria cara a tapa, literalmente, e fez mudar as perspectivas. Ela bancou, “filho meu tem que estudar”. Isso foi feito. A vaga conseguida à base de sorteio em uma escola pública foi honrada, foram 14 anos no mesmo colégio público, com uniforme garimpado na caixinha de doações, com tênis “semidão”, com cadernos de folhas amarelas, com livros comprados no sebo.

Acabou que o moleque tomou gosto por esse tal de estudo. E foi ficando bom nisso. No colégio já era normal ficar tranquilo com notas; “passar de ano” nunca foi a preocupação porque isso acontecia naturalmente. Sem muita ideia do que iria fazer da vida, o caboclo foi crescendo. E aí ele se amparou nos estudos para tentar um caminho. E foi buscando, passando num concurso público aqui, noutro ali. Não se sabe se atingiu o ápice, mas é provável que se tenha alcançado um posto talvez nunca pensado. Dane-se isso! Importante mesmo é ver se a coroa tá bem, o que se pode fazer para tentar dar um conforto a ela. Fundamental é ver que o esforço dela valeu a pena, que o cara que tinha boas chances de cair no mundão aí, de buscar o fácil caminho do crime, foi orientado a tomar outro rumo e assim o fez.


Hoje ele é orgulho da mãe, orgulho da irmã, mas muito mais que isso. Ele agradece sempre por ter sido colocado nesse meio, por ter passado o que passou, por ter tido as experiências que teve.  Hoje a ideia é retribuir, ter a sensação de que qualquer coisa que se faça ainda é pouco perto do que recebeu. E assim será feito, dia a dia, tempo a tempo. 

É isso. 


terça-feira, 8 de julho de 2014

COPAS



Não é porque não torci para o time do Brasil que não sou brasileiro. Não torci mesmo, não torci porque não concordei com o modo de como a Copa do Mundo foi feita por aqui. Claro que é um evento lindo, que atrai milhões de pessoas, gera renda, faz a economia girar. Mas não foi isso que vimos aqui. Os turistas vieram, como iriam em qualquer outro país que sediasse um evento desse porte. Foram bem tratados, gostaram, como gostam praticamente todos os turistas que visitam nosso país.

Acontece que a Copa do Mundo feita aqui foi a copa do desvio. Estádios superfaturados, gente sendo expulsa de suas casas, falta de investimento em áreas que seriam fundamentais para a copa, como o transporte, a segurança pública. Isso sempre me entristeceu e fez com que eu não gostasse desse evento aqui.

Não consegui jogar minhas energias para um time vendo um país estagnar. Não consigo sorrir vendo apenas um time ganhar quando a maior parte da população saiu perdendo. Não vou ficar feliz porque onze caras fizeram gols enquanto milhões acordarão no outro dia com os mesmos problemas, andando em ônibus superlotados, precisando de hospitais que estão em cacos, vendo crianças analfabetas, sem perspectiva nenhuma de futuro digno.

A "copa da copas", para mim, foi triste. Triste em ver que após o dia 13 de julho o país vai continuar igual, vai continuar com seus problemas sociais, com problemas estruturais, mas com algumas, pouquíssimas pessoas apenas, que se tornaram milionárias em cima da desgraça dos outros.

Volta para a casa, brasil. Esse time não me representa, porque não vou jogar minhas esperanças de um futuro melhor em onze caras apenas. Um time de futebol não será minha esperança de um futuro melhor nem o conforto por um presente cruel com nosso povo.


É isso. 

sábado, 5 de abril de 2014

SEU TEMPO, MEU TEMPO




Dê tempo ao tempo
que a coisa pode mudar
Dê chance ao tempo
para revigorar

Mude com o tempo
mas se permita ficar
Busque o seu tempo
que penso em esperar
Venha para meu tempo
e venha para ficar

Envolva-se em nosso tempo
lembrando sempre
que ao seu lado
é tempo de estar 


domingo, 30 de março de 2014

TERRA ESTRANHA




Coração é terra estranha?
Quando anda torto, quando abandona
E quem o comanda sem sentir?
Se lá que vejo, lá que sinto,
lá que entendo, lá que instinto.

Coração é terra estranha
Pior que, menino, se assanha
Quando busca e não se entranha
Dor intensa, dor que acanha
Jogo duro, perde-ganha.

Estranho, terra de coração
terra de doce, doce não
terra que brota, contradição
terra que nasce
esperança, desilusão. 


sexta-feira, 14 de março de 2014

MÚTUO




Mútuos toques,
mútuos prazeres.
Tanto enfoque,
poucos dizeres!

Basta de inércia,
de conforto, conformismo,
basta de procura
de saudade,  de vontade,
terrorismo.

Busco naquelas curvas
o motivo do desejo.
Daquele abraço, daquele beijo,
daquela forma que trouxe ensejo
de buscar toda, completa,
de tudo aquilo
que tanto almejo. 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

SEM PUDOR







Quando vier a saudade

E com a ela dor

Lembre-se do momento

Do calor,

da vontade, do ardor,

sem pudor, da intensidade,

das mentiras, da verdade.

Daquilo que te fere,

daquilo que me invade,

que te altera o humor,

infelicidade. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

MIRAGEM




Miro o céu e vejo seu olhar.
Piso no chão e sinto a distância,
em qualquer canto, qualquer instância.
Em toda forma de sussurrar,
toda forma de amar, toda de esperar,
todo o sinto, todo o estar,
e todo o prazer e todo sonhar
e tudo que é o todo,
tudo que não é probo,
tudo o que sinto
toda magia, todo engodo.